domingo, 28 de outubro de 2012
Saúde
terça-feira, 2 de outubro de 2012
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Gavetas e gavetinhas
O colecionador de máscaras III
O colecionador de máscaras II
O colecionador de máscaras I
domingo, 29 de abril de 2012
Sem-teto
Eu tenho outra casa linda pra voltar, de portas sempre abertas, com todo o cuidado e carinho dos meus pais;
Eu tenho ainda uma outra casa, conquistada pela luta, cheia de amigos que querem mudar o mundo, ganhos nessa trajetória;
No entanto, não importa pra onde eu volte.
Eu não sinto ter casa. Sinto ter dormitórios
- minha casa é nos teus braços.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
De madrugada
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Imortalidade
Na primeira vez, te devolvi a voz.
Na segunda vez, te devolvi a masculinidade.
Na terceira vez, quero te devolver a vida.
Quero ser Deus.
Quero Te fazer Deus.
quinta-feira, 19 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Pária, com dor, cansaço e sono
Eles cuspiram na gente, era isso que queria ter dito ontem no telefone sem parecer ridícula. Nos jogaram coisas pela janela. Fizeram cara de nojo e horror nos olhando fazendo a luta. Tinham nojo de pobres, ainda mais na luta. Alguns nos perseguiram nas ruas para nos xingar e condenar de invasores. E só pudemos conversar com a sua suma autoridade escoltadas com policiais, como se fossemos criminosos. Pois é, nos últimos anos eu estava ocupada demais com toda a sinceridade do que acredito para perceber que a sociedade nos odeia.
Você tem razão no que um dia me disse: não sou eu quem sou triste; o que me entristesse é a sociedade no sistema capitalista. Esse sistema que parece dar vazão a todas as individualidades e aparentemente acolhê-las e cooptá-las através do consumo, mas isso é tudo mentira. O diferente é apenas a exceção que serve para confirmar a regra desse rolo compressor da maioria, e como tal deve ser execrado, crucificado e punido exemplarmente, como exemplo do que não se deve nunca fazer.
Hoje, só hoje, me deu cansaço de estar sempre errada. Por que "errada" se o que eu sinto parece tão certo dentro de mim? Se nunca fiz nada sem intensidade e sem estar plena? Sim, eu fui na adolescencia a drogada de cabelo colorido, mesmo sem o ser. Depois para a família e escola, a sapatão que come criancinhas. Depois me atirei às experiências sexuais e emocionais, o que diriam desta se soubessem??? "Você que tem tantos segredos, especialmente com sua família, não é mesmo Clara?". Em seguida, fui a 2a mulher submissa numa relação BDSM e, ainda durante, "irmã" ou quase mãe de uma transexual. Agora, tenho ocupado meu tempo a destruir famílias estruturadas e felizes, só por sexo e sentimentos levianos, não é isso mesmo?
Esse sistema aniquila as nossas potencialidades. Estou cansada, não mudaria um fio de cabelo, mas hoje me cansa a dor de a todo tempo dar murro em ponta de faca. Me dói ter tudo o que eu acredito e sinto e sou transformado em perversidade nos olhos dos outros, e nos dedos em riste. Me revolta lidar com tantos bastiões da moralidade. São todos tão certos , todos tão lindos, impossível não lembrar do "poema em linha reta" do Pessoa.
Estou preocupada de você não ter escrito mais. Paro o meu muro de lamentações e volto ao motivo que me tirou o sono. Medo da sua noite ter sido um inferno. Angústia de não poder estar ao seu lado e através da transgressão acabar com esse inferno. Você queria fazer as coisas passito a passito, mas me parece que as circunstâncias fizeram esses passos maiores e mais rápidos que o calculado. E eu não temo. Me sinto pronta pra viver nossa relação qualquer que seja o formato. Você é a primeira pessoa do mundo capaz de me passar segurança mesmo diante de tantas situações difíceis.
Isso é muito interessante e único. Sua postura me convence que apesar de tudo e de todos, nosso amor não é impossível como eu achava antes. Nos teus braços, ainda que longe, me sinto sim uma fortaleza. Até mesmo em momentos de fragilidade, como hoje.
Sim, eu mal posso esperar para estar no teu abraço e ganhar teu carinho. Mal posso esperar para te dar carinho, olhar nos teus olhos, estar colada no teu corpo e ouvir tua voz assim, tão bonita, baixinho no meu ouvido, com o coração batendo forte e sentindo ela se embrenhar no meu ser...
Saudades, muitas saudades.
Espero que esteja bem.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Lendo Simone de Beauvoir/ Uma morte muito suave
As escaras.
Eu nem sabia que essa palavra existia.
Já não absorvia nada por causa do câncer, suava uréia nas feridas abertas e sentia uma dor que nem a morfina curava. Quando o livro avançava nessa narrativa das dores eu lembrava... que já devia saber o que passarás pelo exemplo da Bete. Mas eu só conheço em imagem o processo da Bete... Eu fui privada do exemplo dela como serei do teu.
Me lembro de imaginá-la com a barriga cheia d’água pois seu fígado não funcionava mais. De imaginar as punções sem contudo saber que isso significava o início do fim... de ter me deparado
com violenta angústia e descobrir que ela estava no hospital tão magra que os pinos de sua coluna apareciam debaixo da pele. Não tive tempo para nada, tão lenta e estúpida a minha percepção fora de que não temos tempo de nada. Quando finalmente senti paz, no mesmo dia, a tanta distância, soube depois que era porque se tinha ido pra sempre e não sentia mais dor.
Paro e penso que pelo visto esta estória de estudar tanatologia foi uma péssima idéia. Eu não estou preparada nem para ler um livro.
Imagino que só seria possível lidar com a Morte experimentando-a em toda a sua inteireza.
Olho pra ti, com olhos de sentir quem está distante, e imagino que nunca vou poder estar do Teu lado nesse momento. Isso me rasga por dentro, isso me desfigura e não posso nem falar no nome Dela contigo.
Penso: será que vou sequer poder vê-lo no hospital sem ser hostilizada? Sem destruir lares e memórias? Será que poderei ver e chorar teu corpo?
Pois eu queria acordar durante toda a madrugada quando tremesses, para parar os teus espasmos com os meus carinhos.
Pois eu queria passar cada dia no hospital tornando tua sobrevida, uma vida, ou melhor; eu queria te arrancar desse hospital o tanto que desejas arrancá-lo de tua vida.
Queria que morresses em paz... e em meus braços. Queria que não morresses sozinho... Que não te sentisses sozinho nunca... E é tudo em vão...
Simone de Beauvoir discute que a Morte nunca é natural e que diante Dela, assim como sua mãe, sente revolta.
A Morte é natural. Mas a Morte de quem eu amo, JAMAIS será natural pra mim. Natural e banal seria a minha. Antinatural é sobreviver quando os que amamos morrem, levando consigo uma parte de nós e de nossos sonhos.
Um brinde aos que ficam, cada vez mais sem si mesmos.
A tanatologia foi uma péssima idéia e não consigo entender o porquê, pois no fundo todo mundo me treinou para a Morte.
Pois Ela é a decepção.
Ela é a negação de nossa vontade.
Ela é a privação do nosso destino e amor; a maldição que condena o nosso amor à fantasia.
Meus amores têm sido fantasias.
Meus amores têm sido fantasmas.
Meus sonhos têm sido irrealizáveis e ininteligíveis.
Nesse momento, tudo é impossível.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
23 de fevereiro de 2011
Quando eu resolvi passar mais de um ano perdendo tempo ou, dependendo do humor, esperando o momento certo da “nota” e “sinfonia”, eu Te escrevi a seguinte poesia:
Eu tenho um amor platônico.
Ele me faz companhia
quando o meu amor real
está real demais.
O meu amor platônico é meu
amigo imaginário
Ele me deseja, me respeita
me deixa sonhar com ele
Ele é superior a mim
E me aceita mesmo com falhas
Ele é meu Pai.
Eu amo ele mais porque ele não é de verdade
e porque ele nunca vai errar
ou eu não vou ter tempo de vê-lo errar.
O meu amor, meu Pai, meu amigo imaginário
vai morrer
e alongar essa distância que se coloca entre nós
e se eternizar na memória e no tempo
levando pra longe dos meus lábios os seus lábios intocados
e o carinho que eu não pude dar.
O meu amigo imaginário me faz deparar
com a minha solidão mais profunda
com a essência da dor
com as questões metafísicas todas
com Deus
e com as limitações da vida.
Mas eu não posso salvar o meu amigo, corpo presente
Nem posso mata-lo, espírito mais que presente
Nem posso impedi-lo de habitar-me
Nem arrancar de mim as suas marcas que eu as fiz.
O meu amor de mentira
É insuportável
porque imaterial
E belo
porque imaterial
O meu amor imprestável
vai me assombrar pra sempre
Até que cesse
essa imensa luz
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Uma vez é igual a nenhuma
Eu me expus.
Eu sempre me exponho pois não me expor é morrer.
Ou teria sido mais bonito dizer que não se expor é “renunciar à vida”. Assim não tocaríamos em Seu nome. Assim, não falaríamos Dela.
Às vezes eu simplesmente acho que a vida é uma perfeita sinfonia em que cada nota se encaixa em seu lugar e em seu tempo;
Agora eu só acho que perdemos nosso tempo sempre porque somos covardes. Passamos a vida inteira sendo covardes e com medo da vida. Medo de que ela Doa. Medo de sermos ridículos. E assim nos privamos dela e de nós mesmos, sendo ridículos.
É inadmissível precisar ter uma experiência de quase-morte pra começar a viver a vida.
É inadmissível mesmo assim ainda perder tempo romantizando sobre notas que se encaixam perfeitamente como uma sinfonia quando a vida escancaradamente é uma ópera. Cada nota me corta ao meio e eu só conheço acordes dissonantes...
Sendo assim, correndo o risco de destoar do controle que não me deixa nem admitir pra mim mesma, devo dizer: EU TE AMO. Eu te amo e você vai morrer.
Preciso admitir isso para o mundo e pra mim mesma. Preciso gritar para o mundo: EU TE AMO E VOCÊ VAI MORRER!
Assim começa a nossa história.